segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Movimento Negro no Brasil


A questão dos negros no Brasil é um processo que ainda precisa ser debatido. Ora, foram cerca de 300 anos de duro preconceito, de hostilização do ser humano. Visto isso, criou-se essa cultura de inferiorização dos negros – uma grande falácia. A Constituição Federal nos considera iguais, sem distinção de raça, sexo, religião e etc. Os direitos humanos nos tratam da mesma forma; porém, é mais difícil ver isso na sociedade, ou seja, a teoria está aí. 

A mídia até tenta quebrar esse paradigma, mas não consegue apresentar muito sucesso nesse aspecto. As novelas mostram uma interação e integração de negros na sociedade. Recentemente, elas têm inserido os negros em posições mais altas: como é o caso de André, personagem interpretado por Lázaro Ramos, na novela “Insensato coração”. Ao observar telenovelas mais antigas, percebe-se que os negros têm papéis estereotipados.

Milton Gonçalves é um ator da Rede Globo há mais de 40 anos. Os personagens que ele interpreta, observe, sempre são escravos, empregados e afins. Para comprovar essa prática, é só prestar atenção  e se atentar a esses detalhes sutis. 

É claro que existe toda uma questão de visualização de um cenário. Por exemplo: se os escravos eram negros, é óbvio que um ariano não poderá fazer o papel, ou mesmo um indígena, japonês e etc. Por outro lado, existem novelas dos tempos atuais, que podem inserir os negros em qualquer papel, principalmente de pessoas bem sucedidas, como há na sociedade, de fato. 

Outra questão é se o ator é bom ou não para aquele papel. São inúmeras questões em volta disso; no entanto, deve haver preocupação. Ora, os angolanos são público das telenovelas brasileiras que, diga-se de passagem, são de altíssima qualidade: atores bons, boas interpretações; recursos de angulações de câmera, luz, cenários bem trabalhados, diretores qualificados e renomados. 

Os movimentos negros são para resgatar a memória de um povo que batalhou por sua liberdade. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu primeiro artigo, diz que “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos...”. Por séculos da história do mundo, os negros não experimentaram esse direito. 

A mobilização do povo negro se deu um ano após a abolição da escravatura, em 1888. Aliás, no mesmo ano da Proclamação da República, em 1889. O Brasil se tornou soberano, o povo chegou ao poder, a democracia se estabeleceu, mas a situação dos negros não mudou, deu continuidade a prática da marginalização deles. 

A partir dessa rejeição da sociedade, criaram-se novos movimentos de mobilização racial dos negros, tais como: Clube 13 de maio dos Homens Pretos, Sociedade União Cívica dos Homens de Cor. Integrava, também, a mais antiga das manifestações: o Clube 28 de setembro, de 1897. 

Nesse período, várias entidades foram criadas, bem como a imprensa negra. Os jornais O Homem de Cor, O Mulato, O Brasileiro Pardo, O Cabrito e o Meia Cara foram publicados no período entre 1833 e 1867; todos eles, jornais cariocas. 

Esses veículos de comunicação abordavam questões destinadas ao público negro; as principais abordagens eram de combate à discriminação racial. Entre outros aspectos, as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores negros, como também, as coisas que afetavam a habitação, saúde, educação: direitos básicos estipulados pela Constituição Federal. 

Em São Paulo, a imprensa negra tomou novos rumos com o jornal, O Menelick, de 1915. Depois dele: A Rua (1916), O Alfinete (1918), A Liberdade (1919), A Sentinela (1920), O Getulinho e o Clarim da Alvorada. Nos anos de 1930, foi criada da Frente Negra Brasileira (FNB).

A Frente Negra Brasileira movimentou diversos outros grupos de mesmo cunho a participar e se tornou popularíssimo. Estima-se a filiação de mais de 20 mil membros. As mulheres também passaram por diversos preconceitos; ao contrário do que oferecia a sociedade, o sexo feminino, no movimento negro, tinha participação ativa. 

Elas eram estavam presentes nos encontros e reuniões, assumiam diferentes funções. As mulheres realizavam diversos trabalhos; outra parcela, organizava festas, bailes e demais comemorações. As pessoas do sexo feminino não costumavam ter oportunidades como essa. O comum era que a mulher fizesse todo o serviço em casa. 

Esse modelo de mulher na sociedade foi cultivado por várias décadas. Tanto é que, a participação delas na política, por exemplo, é bem tímida. Poucas mulheres ocupam os cargos públicos.

A manifestação, agora entidade, tomou corpo e se organizou de forma a proporcionar cursos, grupos musicais, times de futebol, serviços médicos e odontológicos, educação, em geral, além da publicação do mais novo impresso da imprensa negra, o jornal A Voz da Raça. 

Fundada em 16 de setembro de 1930, a FNB ajudou os negros a ingressarem na polícia paulista e constituiu-se um partido político. Sete anos após, Getúlio Vargas, na época, presidente do Brasil, decretou o Estado Novo e acabou com todos os partidos políticos. Então, a Fundação, como frente política, acabou. 

Em 1945, os movimentos negros perderam parte do seu espaço na sociedade. No entanto, um deles foi exceção: o Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado por Abdias do Nascimento. Ele foi um ativista do movimento negro, deputado, secretário estadual e senador, além de ator e escultor. Produziu obras para evidenciar o combate à discriminação racial. Abdias estabeleceu o dia 20 de novembro como data oficial da Consciência Negra.