"Eu sou
igual a você? Tem certeza? Ou somos diversos, mas semelhantes?
Como você
definiria um ser humano?
Começaria
pelo DNA, a estrutura óssea, pela muscular, cor da pele, pelos tipos e cores
dos cabelos, pela forma e cores dos olhos, pelas cores dos dentes e suas formas
… Talvez pelo temperamento, comportamento, hábitos, línguas … Ou seria pelas
crenças, culturas religiosas, expressões de fé, formas de sentir e manifestar
Deus ou os Deuses?
Parece
fácil, mas não é fácil definir o que é o ser humano, seja no biológico, no
psicológico ou no espiritual. Isso porque somos da mesma espécie, Homo sapiens,
mas somos tão diversos, tão plurais em nosso modo de ser, pensar, manifestar e
crer que é um grande exercício nos definir.
Vamos tentar
fazer algo mais fácil: vamos definir Deus, já que a criatura é tão complexa,
vamos ao criador… Piorou? Tá difícil? Complicou?
Bem, vamos
então para a religião. Qual é a verdadeira religião feita por Deus? Uhmmmmm …
bem … qual é a verdadeira verdade de fé, única e absoluta para esse nosso
planeta chamado Terra? Enrolou a sua cabeça?
Interessante,
pois as pessoas tentam definir ou chegar perto de uma definição de religião,
mas é tão difícil quanto definir o que é um ser humano, ou definir o que é ou
como é Deus. Isso porque é complexo, e é uma visão que nunca abrange a tudo e a
todos. Sejam aqueles que creem em um mesmo Deus ou que fazem parte de um mesmo
conjunto religioso.
Particularmente
no caso da Umbanda, existem tentativas de especificar ou generalizar o que ela
é, mas pelas prática de um ou de outro, naquilo que aquele setor, aquela
ramificação, aquela forma de Umbanda pratica, ritualiza, doutrina, acredita,
como se ela fosse o todo.
Alguns até
dizem: foi Zélio, o C7E que fundou a Umbanda e a ele todos devem seguir em cada
palavra, em sua forma de culto (falam, mas todos fazem a Umbanda de Zélio?),
mas nem no Cristianismo isso aconteceu, tendo este mais de 150 vertentes
Cristãs no mundo. Lembrando que uma é
diferente da outra, embora cada uma acredite em Jesus ou em interpretações de
Jesus ou em coisas que disseram de Jesus ou … Até com Jesus existem várias
formas de vê-lo, senti-lo, adorá-lo, segui-lo … de acreditar. Porém, cada uma
das formas de crença em Jesus, se diz que é a verdadeira, seja na palavra de
salvação, seja na sua forma de rito e culto.
"Só
Jesus salva!" Mas e as outras religiões que não são Cristãs, ninguém será
salvo? É tudo mentira?
Será que
dentro da visão de diversidade e pluralidade a Umbanda é diferente do
Cristianismo? Existe uma única forma de Umbanda para todos? Existe a Umbanda
verdadeira? Quem ela é? Existe uma única forma de culto, rito, doutrina,
manifestação e adoração ‘as divindades e guias na Umbanda? Ou existem várias
Umbandas que formam um grande conjunto religioso, nomeado simplesmente como
Umbanda?
Ao meu ver
todas as formas de Umbanda são verdadeiras. Não se pode desqualificá-las por
ter ou deixar de ter ritos, formas, doutrinas, fundamentos, diferentes uns dos
outros. Na realidade, o que irá dizer a
sua verdade é o que ela faz de maneira digna, honesta, caridosa, na fé, na
crença, nas atitudes, na preocupação e no zelo com o próximo; em sua moral e na
expressão dessa moral, compromissada com uma ética de conduta, que não machuque
o ser humano em sua mente, fé, corpo, moral ou espiritualidade; onde haja
compromisso seguro e farto com o outro, no cuidado e educação do outro dentro
daquela fé, onde haja respeito pelo que é feito em termos de religiosidade,
seja para e com os guias, seja para e com os Orixás; onde exista respeito pelo
que o outro faz como Umbanda, sem vaidades, medos, arrogância, sem tentar
denegrir o outro, só porque não se entende o que ele faz ou por ser diferente
do que fazemos, mas que haja amor fraterno ‘as diferenças e, acima de tudo
respeito a essas diferenças, com certeza, ali existe uma forma de Umbanda.
É fácil
desqualificar, denegrir e diferenciar o outro, mas é tão difícil ser irmão,
solidário, ter pensamento plural e reconhecer o outro como seu igual. É claro que existem pontos de referência e
igualdade, mas é mais fácil ver o diferente e recriminá-lo, do que tratá-lo com
respeito e igualdade.
Nisso
perdemos a união, o respeito, a capacidade de nos juntar nas dificuldades,
agindo pior do que aqueles que nos aviltam, nos denigrem, sejam em palavra ou
na depredação de nossas casas, pois pior do que o preconceito inter-religioso
(entre religiões), é o preconceito intra-religioso (dentro da religião). Porque
esse maltrata mais, dói mais, e é sentido muito mais profundamente, pois é um
preconceito oriundo da ignorância, do desconhecimento do outro ou sobre o que o
outro faz e é: como ente religioso, como casa religiosa, como membro de uma
espiritualidade, como parte de um conjunto religioso.
Vivemos uma
espécie de "apartheid religioso" dentro da Umbanda, onde todas ou a
maioria das ramificações de Umbanda querem ser "A Umbanda", e, com
isso, discriminam e desqualificam umas as outras, principalmente as Umbandas
que têm fundamentações africanistas (Omolokô, Almas e Angola ...). Estas são vistas como não Umbanda,
deturpadoras, "Umbandomblés", "Macumbas" ... Algo atrasado
e primitivo, longe da evolução e da luz que representa a verdadeira Umbanda. Ou
seja, um grande preconceito ou uma grande ignorância que se iniciou nos anos 30
do séc. XX, e perdura até os dias de hoje.
A realidade
cruel é que na ignorância e na vaidade pelo todo (poder, imposição de uma forma
sobre as outras), em se ver como o todo, geramos o preconceito sobre o que nos
fere os olhos, só porque não o aceitamos, só porque não entendemos, só porque
não o reconhecemos como um igual, porque não queremos aceitá-lo como um igual:
"Queremos ser únicos, verdadeiros, evoluídos, perfeitos em nome de uma
espiritualidade, em nome de Deus, e impor o que fazemos ao todo, pois
acreditamos que aquilo que fazemos como Umbanda é o certo, é legítimo e assim
todos devem proceder, pois é o correto."
Só que Deus
fez o diverso, o desigual, a pluralidade no mundo e entre os seres humanos, e
entre as religiões e dentro das religiões.
Negar o
diverso, o plural, as diferenças, é negar a Deus em sua obra, é negar o próprio
Deus.
Só seremos
fortes e unidos se nos aceitarmos uns aos outros; só conseguiremos atingir a
sociedade (mais diversa e plural que a própria Umbanda) se respeitarmos as
nossas diferenças internas e aprendermos a conviver, harmonicamente, com elas;
só cresceremos se deixarmos de querer ser praia, nos contentando em ser
pequenas pedras de uma grande praia chama Umbanda.
Que Yemanjá,
senhora das cabeças, possa iluminar nossas cabeças e nossas mentes, para que
haja menos preconceito entre os Umbandistas e entre as diversas Umbandas, e
mais diálogo, mais entendimento e mais união.
Axé a todos.
Pai Etiene
Sales"
Mensagem
recebida no Programa Mensageiros de Luz no dia 09/01/2013